Atualmente, a China está enfrentando um desafio econômico decorrente de um longo ciclo que estimulou um crescimento vigoroso por décadas. O excesso de poupança das famílias foi canalizado para subsidiar massivamente as indústrias locais, resultando em menor parcela de renda para os chineses, em comparação com o aumento de produtividade consequente do investimento desmedido.
Inicialmente, esse investimento maciço no setor imobiliário, em especial no mercado de real estate, proporcionou novo padrão de consumo entre os consumidores incipientes do país, sustentando o modelo. Contudo, o esgotamento dos retornos esperados na área, evidenciado por cidades fantasmas e infraestruturas subutilizadas, sinaliza uma mudança dessa dinâmica.
Agravando a situação, a maior parte da riqueza da população está vinculada ao mercado imobiliário, o que intensifica a sensação de redução de renda média e restringe ainda mais o consumo. O resultado é um cenário no qual há empresas altamente prolíficas, mas com excesso de capacidade de produção e uma base de consumidores diminuída.
Assim, para enfrentar esse desequilíbrio, o gigante asiático se vê obrigado a aumentar as exportações, dada a superprodução resultante do excesso de poupança. Hoje, frente a uma pressão menos intensa para estímulos ao crescimento, o governo chinês adota algumas medidas monetárias como redução de juros e liberação de reservas bancárias.
Contudo, esses incentivos exacerbam o problema de promover a expansão da produção sem alavancar o consumo interno. Além disso, as restrições às exportações chinesas nos países desenvolvidos podem direcionar uma onda de importações às nações em desenvolvimento. Isso exige uma abordagem estratégica, pois, embora essa onda possa reduzir preços e melhorar a inflação, há riscos de prejudicar essas economias, uma vez que a China subsidia esses produtos.
Nesse contexto, é importante que os governos, incluindo o brasileiro, adotem respostas planejadas a essa conjuntura de dumping econômico (venda de produtos a preços abaixo do valor justo para outro país). Não se trata de fechar a economia ou impor tarifas excessivas, mas de lidar de forma tática com o excedente provocado por anomalias da economia chinesa a fim de evitar danos severos a outras economias.