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ARTIGO DE ECONOMIA

Banco Central mais conservador

Neste artigo, o especialista comenta sobre a decisão do Copom sobre a Selic.

10/05/2024 13:30

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Banco Central mais conservador

Banco Central mais conservador

Em sua mais recente reunião, o Banco Central (Bacen) optou por uma postura mais conservadora, diminuindo o ritmo de flexibilização monetária que vinha adotando nas últimas seis reuniões. A decisão resultou em um corte de 0,25 ponto-base (pb) na taxa Selic, fixando-a em 10,5% ao ano (a.a.). 

O aspecto intrigante desse desfecho foi a estreita margem de votação, com cinco membros apoiando o corte de 0,25 p.p, enquanto outros quatro defendiam a continuidade dos cortes de 0,5 p.p.

Aqui, é importante destacar que o Bacen contrariou as expectativas geradas pela ata da reunião anterior, na qual havia sugerido novo corte de 0,5 pp, um processo conhecido como forward guidance. Essa reversão de cenário pode gerar ruídos no mercado, especialmente quando não há razões substanciais para justificá-la. 

Para compreender as motivações do colegiado e antecipar os próximos passos da política monetária, é necessário analisar o comunicado divulgado com a decisão. Embora, geralmente, apresente poucas divergências em relação aos comunicados anteriores, ele ressalta a influência significativa da conjuntura internacional para esse resultado.

Ao salientar as resiliências da economia e da inflação nos Estados Unidos, o comunicado indica a ausência de perspectivas para reduções adicionais na taxa de juros dos Fed Funds. Isso estabelece um patamar mais elevado para a taxa Selic, pois reduções mais acentuadas poderiam desencadear uma fuga de capital estrangeiro para ativos de renda fixa norte-americanos, resultando em desvalorização cambial e pressões inflacionárias.

Ademais, o comunicado menciona os indicadores positivos apresentados pela economia brasileira no início do ano, mas ressalta um problema basal: a negligência quanto à política fiscal. 

A desistência de alcançar um déficit nominal zero neste ano já está influenciando as expectativas de longo prazo do mercado, impactando a curva de juros. Diante disso, acredita-se que a autoridade monetária deveria dar mais atenção a essa questão na redação do comunicado. Isso significa que, mesmo com a redução da Selic, empresários que buscam crédito a longo prazo já enfrentam dificuldades para obter financiamento mais acessível, uma vez que o mercado indica a possibilidade de aumento das taxas no futuro.

No cenário doméstico, observa-se uma redução no espaço para novos cortes. O mercado de trabalho apresenta a menor taxa de desocupação desde 2014, com o desemprego beirando os 7,8%, perto do recorde histórico de 7,4%, registrado em 2012. 

Além disso, apesar da baixa no índice anual do IPCA, as inflações mensais, a partir de junho de 2023, têm chegado próximas a zero, indicando uma possível retomada do aumento anual da taxa. Essa conjuntura, aliada a uma política fiscal expansionista, cria um ambiente propício para o recrudescimento da inflação. Além disso, a volatilidade nos mercados internacionais aumentou com os indicadores robustos da economia norte-americana. 

Ao contrário das previsões do fim do ano passado, que estimavam de três a quatro quedas em 2024, o mercado, hoje, não antecipa reduções. Isso pressiona o Bacen a encerrar mais cedo o ciclo de queda.

É provável que ocorram mais cortes de 0,25 p.p (três, pelo menos), mas o piso da taxa de juros está, certamente, acima de 9,5% a.a., dadas as condições de mercado. Por isso, empresários e consumidores devem esperar por algumas reduções adicionais nas taxas de crédito, mas serão limitadas por uma situação mais desafiadora para o Bacen.

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